Monday, January 29, 2007

Para lá do desértico sentimento de ontem,
desperto neste oásis poético,
onde a palavra jovem corrompe a dor,
e o amor filtra a cor do tempo,
como uma fénix planando ao vento,
desvendando o significado que a palavra tem.

O futuro anuncia-se profético,
caminhando solto pelas letras do poema,
e esta espécie de alma que carrego,
transborda agora a calma,
destes dias de assossego,
em que todo eu sinto e navego.

Entrego-me a esse espaço,
onde reside a vontade e o desejo,
o embaraço esvaí-se num terno beijo,
tu permaneces e eu versejo,
sobre a resposta às minhas preces,
a que Deus respondeu com o teu nome.

Além desse lugar,
habita a saudade de mim,
que hoje reconheço assim,
como existência desbotada,
e vejo a vulgar humanidade que aqui morava,
provocada,
pela falta do amor que faltava.

Thursday, January 25, 2007

Num voo rasante de quimera,
adormeço expectante à espera,
que o vento sibilante traga,
a fábula encantada,
e a noite amarga termine,
no beijo que define este amor.

Deslizo pelo terror da madrugada,
com o coração à cabeceira,
o corpo perdido na tempestade,

- sem eira nem beira - ,

a mão confusa à espreita,
de um calor ausente,
e o cérebro dormente,
sonha que dorme na tua cama.

Quem assim ama,
outra dor não sente,
do que o silêncio permanente,
ecoando pelo quarto,
o frio entrando em passo largo,
e o arco do tempo se fechando,
pela noite que renego.

Aí enterro a saudade,

do calor, da presença, da palavra.

A morte vislumbra-se intensa,
a vida perde a tonalidade da cor,
o sono que tarda,
encurta a distância,
a hora pingada,
aumenta a ânsia,
de voltar para onde o ontem estava,
de regressar ao que o amanhã encerra,

de amar.

Monday, January 22, 2007

Talvez sonhe contigo hoje
ou com alguém da mesma cor.
Será o teu nome,
com certeza,
que habitará o meu sono
ou não será sonho assim,
mas pesadelo sem fim
ou desmaio incolor.

De qualquer forma,
será uma noite sem sabor,
essa de não ver o teu corpo sem dor,
povoar a alva madrugada,
e adormecer despido de mais nada,
do que a recordação do teu calor.

Mas isto de sonhar é imprevisível,
porque ninguém escolhe o que a noite torna visível,
apenas pode desejar que a almofada traga,
o que o coração não apaga,
e que o dia amanheça sem a mágoa,
de não ter do sono o que recordar.

O sonho não distingue,
o real do irreal,
e eu adormeço em ti a pensar,
na certa tentativa de condensar,
num fragmento de dormir,
o beijo, o toque, o olhar,
porque amanhã quando acordar,
vou continuar a ouvir,
este amor a falar.

Saturday, January 20, 2007

Demoro-me na minha imagem reflectida nos teus olhos húmidos,
toldados pela palavra,
e pela primeira vez amo o reflexo que vejo.

Percorro o teu corpo e encontro,
o perfume do homem que sou,
entranhado na pela calma que te forma,
na febre alta deste amor inteiro,
e reconheço como meu o teu cheiro,
o suor e o sabor ligeiro,
da lágrima que desliza pálida pela carne.

A mão arde,
passeando pela curva despida.
Íntima,
onde conheço cada célula como minha,
onde desejo a vida e morro a cada momento,
para renascer outra vez,
num suspiro de vento.

É este o sentimento que respiro.
És tua a mulher por quem suspiro.
Aqui sou homem, anjo e poeta.
Aqui és mulher, rainha e cometa.
Aqui somos o delta de dois rios,
a colisão de dois oceanos,
e amamos assim num devaneio consciente,
num amor que não mente,
docemente,
vamos ficando.

Wednesday, January 17, 2007

Procurei-te em mil vidas aguadas.
Mil vidas e não te encontrei.
Fui amante da rainha de Sabá,
mendigo em Calcutá,
salteador de túmulos no vale dos reis,
subi cumes e uivei,

o teu nome, a tua pele,

mas não recebi do mundo resposta,
e desesperei.

Mil vidas vividas em desencanto,
e o teu beijo era recanto,
que não existia.

Procurei por mares e montanhas,
desci desfiladeiros pelo dia,
mergulhei na noite como água gelada,
encontrei companheiros nus pela estrada,
e mil vezes morri.

Procurei-te no submundo também.
No inferno de Dante e no céu de Deus.
A todos disse adeus,
e continuei caminho,
sorrindo pelo purgatório,
chorando no ermo promontório,

e aí descansei,

no abismo de um copo de vinho.

Mil mortes desperdiçadas.
Mil mortes sem arrependimento que a vida levou.

Tudo tem um tempo,
e agora que te encontrei,
o momento é de amor,
o sentimento é de mil anos,
e o sofrimento acabou.

Monday, January 15, 2007

Parece sempre pouco tempo,
o tempo que passo contigo.
Aquele em que desenrolamos o novelo de lã dourada,
e a manhã chega e embaraça tudo,
num suspiro.

O momento passa num cometa deslizante de prata,
que desenha na noite secreta,
o silêncio e a palavra discreta,
que sussurramos um ao outro.
E o amor ecoa em segredo,
perdurando para lá do tempo,
que passo contigo.

Levo-o comigo,
pelo nevoeiro ausente do dia,
afugentando o frio que gela os ossos até à alma,
agarrando-me à calma,
deste sentimento que trago vestido.

Vou andando sozinho,
pela floresta de caras sem rosto,
onde o ar que respiro não chega para apagar o desgosto,
e o Sol é lâmpada inventada,
que não aquece a hora arrancada,
ao tempo,
que não passo contigo.

Sunday, January 14, 2007

À sombra de um navio adormecido,
numa manhã quase alevantada,
entreguei-me sem mais nada,
e o teu beijo entrou em mim.

Deixei-o entrar,
como quem abra a porta à maresia,
e o momento condensou-se em água,
enquanto todo o meu corpo estremecia,
e eu conhecia,
a doçura deste amor a nascer.

Os lábios colaram-se,
os passos demoraram-se em segredo,
e ali à beira do mar,
o silêncio deixou-se estar,
as palavras calaram-se a ver,
e eu sem morrer,
nos teus braços nasci outra vez.

E de mãos amarradas pelo medo,
seguimos atrás das estrelas e do vento,
deixando para trás as sombras mortas do passado,
porque amar assim não é pecado,
e ali à beira do mar,
o que antes era desalento,
transformou-se noutro sentimento,
e eu voltei a amar.

Thursday, January 11, 2007

Esfumam-me ideias num vento que passa imóvel,
pensamentos do tempo condensado em água.
O poema evaporado,
segue pelo rio,
e eu rio,
ao ver a palavra antes mágoa,
viver diferentes momentos.

Poeta medíocre apaixonado,
cosendo letras em lume brando,
passando pelo dia desasado,
sangrando por não ter na mão outra combustão,
mais calor para derramar no papel,
esta paixão que tem o teu nome.

O sentimento quebra-se na ponta do lápis cruel,
desejo a noite e mato-me em fel,
vomito Deus e a alma do Diabo,
bebo o mel na colher do ocaso,
que não apaga,
ao fim ao cabo,
o amor que consume o infinito.

Só a presença acalma.
O leito seco da desova,
a alcova da palavra sibilante,
da música calada,
iluminada pela voz cintilante,
que trazes vestida sem mais nada.

Acordo assim.
Espantado por ainda existir,
pelo coração subsistir ao medo irracional,
às lágrimas de leite,
ao deleite de ser testemunha do teu acordar,
de ver o teu olhar desapontar para o dia.
Porque aí,
nesse reflexo vibrante,
sou ser brilhante,
sou imortal.

Wednesday, January 10, 2007


Esta manhã tem mil anos.
Nasceu antes do homem esventrar a terra,
e da guerra entre Deus e o Diabo.
Mil anos,
e já tu existias.
Eras ainda pétala de primavera,
num tempo de eterna quimera,
e eu era apenas grão de poeira perdido no universo,
até me encontrar e pousar à tua beira.

Mil anos tem esta manhã de Sol,
e a luz nunca foi tão luz assim.
Cresceu nos dias em que os rios corriam livres sem fim,
em que não eras ainda mulher,
mas átomo de jasmim,
e parte espuma de mar.

Tanto tempo guarda esta manhã.
Mil anos contados ao tempo,
mas só hoje a vejo,
esculpindo asas nas gaivotas planando,
devotas do mesmo sal do que tu.

Mil anos.
Esta manhã tem mil anos,
e só agora a vi.
Abracei-a como abraço-te a ti,
e deixei-me ficar,
a vê-la correr pela tarde,
porque amar-te,
é ver esta manhã a nascer.
Aqui,
na relva aquecida por um Sol atrasado,
só se ouve o vento a pentear as folhas,
o riso distante de uma criança,
e os passos encantados do teu nome.
O ruído da cidade não chega.
Chega abafado,
não se pressente nem um carro.
Aqui,
apenas tu e eu existimos.

As mãos sentadas em silêncio,
procuram-se no verde erva.
A página desdobra-se em terra,
trocam-se olhares com reserva,
sente-se a maresia,
e a cidade continua vazia,
porque agora habitas aqui,
neste espaço,
onde nada mais existe,
para lá do teu reflexo.

Sem complexo.
Ama-se por palavras,
rabiscadas numa folha solta,
amanhada,
que esconde o que sente a alma,
que se solta aqui,
neste pedaço de tarde,
que guardo para mim.

Monday, January 08, 2007

Se para sempre é muito tempo,
peço-te apenas a eternidade do momento,
em que os nossos lábios se tocaram pelo primeiro dia,
e eu percebia que eras tudo o que eu queria.

Se ainda assim for demasiado,
deixa-te ficar sentada a meu lado,
enquanto a terra girar em torno do Sol,
e a Lua for deste amor o único farol.

Se continuares a pensar que é exagerado,
ouve então as palavras deste teu amado,
que escreve a pensar em ti,
e vive a escrever o amor que te prometi.

Se mesmo com esta poesia não acreditares,
segura-me na mão até te familiarizares,
com o ritmo das veias que correm,
e conheceres o pulso destes sentimentos que sofrem,

por ti

Sunday, January 07, 2007

Escrevo para lá do teu corpo.
Da curva do tempo que o define,
procurando o mar,
as estrelas e o teu nome,
antes que este doce novembro termine.

Desenho as letras que estão para além do fio dourado de cabelo,
do traço delicado do perfil adormecido.
Enlouquecido com o embaraço do papel.

Componho a palavra,
arrancando o pólen do teu útero.
Roubando a essência do pensamento que te povoa.
Trancado no meu quarto fechado,
para a solidão não entrar.

Pinto de dia para ler de noite.
À tua cabeceira encantada,
e deslizo neste amor transvertido de fábula imaginada,
em que és princípio e eu precipício,
de poesia despida de mais nada.

Saturday, January 06, 2007

O epicentro destas doces tempestades que me assaltam tem nome de mulher nua.
E as ondas e vendavais que me arrastam sonâmbulo pela rua são desenhos dessa palavra que me sobressalta.

A maré-alta desta tormenta que despeja solidão pelos dias é sinónima de ausência tua.
E só a noite - quando a Lua chega em segredo - sacode a chuva, e traz a poesia para a ribalta.

O vento que salta pelas nuvens esfarrapadas deixa no ar um desejo que flutua.
E o fogo que tatua de negro a floresta dos meus passos só se apaga, quando o amor entra, e a tua voz não me falta.

Friday, January 05, 2007



Amo cada pedaço do teu corpo,
cada centímetro da tua voz,
cada parcela do teu silêncio.
Como uma sacerdotisa entrega-se a um deus invisível,
amar-te é para mim irreversível,
e os átomos que te formam,
pertencem a nós.

Vivo cada palavra tua como se fosse minha,
cada teu cabelo como prolongamento dos meus dedos,
cada beijo como respiração.
E afasto os meus medos,
mergulhando de olhos fechados,
nesta paixão,
que exalas sozinha.

Desejo cada pensamento teu,
cada momento que passo em ti,
cada teu gesto que esvoaça para mim.
Como um escritor procurando a imortalidade no papel,
encontro neste amor sem quartel,
a verdade do sentimento,
que já agarrei.

Assim,
sem mais não,
escrevo as letras que te compõem,
derramo a pontuação pela frase que te desenha,
bebendo em tormento a ausência do teu nome.
Arranhando o papel para reduzir o espaço que nos separa,
matando o tempo que falta para te ver.

Wednesday, January 03, 2007


Como uma vertigem,
a noite cai sobre Maria, José e Jesus,
pintados de dourado.
A luz esconde-se atrás do espelho,
e uma bola partida,
rebola no chão.
A árvore de Natal,
sem estrela,
sobre para o céu.
E Maria corre pela noite dentro,
como Alice caindo desamparada pela toca,
desvairada,
e eu deito-me a ler poesia.

Fechas os olhos,
com pudor,
deixando as palavras entrarem em ti.
E com amor,
esvazio a alma,
entregando mais um fragmento de mim.

Recebes de costas voltadas
– não quero que vejas, o que não falo sem guião -,
mas segurando-me na mão,
ouvindo com atenção,
vais sorrindo nas pausas.

E quando o negro caderno se fecha,
quando o silêncio toma de assalto o quarto,
fica no ar o cheiro da paixão,
do suor,
das lágrimas,
do doce maracujá que derramas,
e entrego-me à noite,
de braços abertos.

Tuesday, January 02, 2007

Lanho a lanho,
vou esculpindo o teu nome em palavras.
Oiço a Lua,
vejo a luz do Sol banhar a terra,
e o mar em remoinho,
diz-me a cantar: ela dorme, deixa-a dormir.

As estrelas,
que sei habitadas,
seguram-me na mão,
o cão lá fora fala com elas,
e eu vou,
lanho a lanho,
cosendo as sílabas com um lápis de prata,
sentindo o vento a murmurar: não a acordes, ela dorme.

O pólen das flores por nascer diz-me o mesmo.
Traz as letras que faltam para te construir,
e o gato foge da poeira que se a levanta,
enquanto eu,
lanho a lanho,
vou alinhavando o poema,
ouvindo longe,
noutro hemisfério de água,
alguém gritar: ela dorme, deixa-a sonhar.

E lanho a lanho,
vou limpando a sujidade do papel,
da pedra.
Até só ficar a criança,
o alabastro,
e o teu nome.
Lá fora,
do outro lado da janela,
o Mundo inteiro dorme.
Tu dormes,
não te acordo.

O poema pode esperar.

Monday, January 01, 2007

Quero que sejas o meu 2007, 2008, 2009…
A eternidade condensada num momento,
e todo o tempo do mundo,
na palma da minha mão.

Quero que sejas o novo ano e o resto do século.
A próxima geração e esta.
Que perdures para sempre no meu coração,
e o teu nunca se feche para mim.

Quero que sejas as quatro estações e os signos chineses.
O calendário maia e a reencarnação de Deus.
Que entre nós não entre a palavra adeus,
e todos os meses sejam como este.

Quero que sejas o meu 2010, 2011, 2012…
Os dias todos até ao fim.
O universo em crescimento dentro de mim,
o mistério do nascimento,
e enfim,
que existas e sejas eu.
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