Tuesday, February 27, 2007

O céu em fogo despede-se do dia,
e a maresia chega-nos a cada sete ondas.
Sente-se no ar o cheiro gasoso do Sol,
deixado em cada calhau rolado desta praia,
que a noite atrasada não vê nem apaga,
e o mar não lava,
porque o Sol não morre assim.

Nuvens incandescentes rasgam o firmamento,
no exacto momento,
em que os olhos se abrem fluorescentes,
para a entrada da Lua,
que é minha e tua,
testemunha de noites de poesia,
e desta palpável fantasia,
que é amar-te e ser amado,
num sentimento sem fim.

O Sol já desapareceu.
Ficou a luminosidade e o doce sabor salgado de cada sete ondas.
No mar desenham-se reflexos de mil giocondas,
e as mãos entrelaçadas beijam-se,
olhando o dia que não desvaneceu,
que nasceu para outros amantes,
companheiros semelhantes,
neste amor que cresceu.

Monday, February 26, 2007

As letras que alimentam estas folhas alinhavadas,
nasceram no teu nome,
como palavras arrancadas,
a este amor que me consome.

És a sílaba que desenha o poema,
decalcada do rugir do vento,
o perfume pintado de uma açucena,
que humedece a página e o sentimento.

Seguras-me na mão sem a tocar,
empurrando a caneta analfabeta,
e o tempo passa a voar,
nos momentos em que me visto poeta.

Anjo-menina, musa-mulher,
deita-te aqui à minha beira,
perdoa a franqueza do papel,
e ouve a poesia concentrada, tua companheira.

Thursday, February 22, 2007


Escuta o mar lá em baixo,
esculpindo o teu nome na rocha,
e deixa-te embalar pela espuma luminiscente,
que a noite mostra.

Vê as estrelas.
Todos os astros brilhando no manto escuro,
que sobrevoa o branco refúgio,
e aquece este amor efervescente,
que mais ninguém sente,
para além dos dois amantes,
reflectidos no espelho de água.

Olha o horizonte.
A vela desfraldada que navega distante,
bebe o cheiro que trás a maresia,
e faz-me companhia,
nesta varanda escavada na terra.

Aterra ao meu lado.
Dá-me a mão e testemunha o sol partir descalço,
deixando para trás os dourados sapatos que trazes,
e um lugar vago para a noite ocupar.

Deita-te aqui vê-la chegar,
e continua a amar,
este que te ama.

Wednesday, February 21, 2007

Mais do que ontem e menos do que o amanhã trará,
amo-te hoje na sincera plenitude de amar.
Sei-o sem bola de cristal ou carta de tarot,
como sabem os pássaros para onde migrar,
e os velhos advinham o tempo olhando o mar.

Também eu leio no vento,
as palavras gasosas trazidas pelo ar,
em que o futuro e o momento,
derramam em mim este alento,
de estar certo da certeza deste gostar.

É isto que sinto,
e não minto quando escrevo,
que nesta manhã vestida de poesia,
esta paixão não é ilusão nem fantasia,
mas um imortal sentimento que não finjo.

Monday, February 19, 2007

Agarro o paradoxo deste amor inteiro,
em que amo perdidamente o teu cheiro,
e encontro-me em cada recanto do esboço,
que desenhas por entre este meu nevoeiro.

Escrevo com tinta-da-china sublinhada,
o que ontem desdenha,
e o manhã procura.
A palavra carregada surge do nada,
pintando a noite escura,
agora iluminada.

Detenho-me aí.
Nesse romance tocado a quatro mãos,
nessa calma apaixonada que me amarra aos teus pés,
nesse calor que evapora a lágrima,
e deixa para trás a crescida raiva,
por cada dia que não amei.

Não foi meu esse tempo.
Não foi nosso esse momento.
Foram dias sofridos em silêncio,
pelo tormento de não conhecer,
o vento, as estrelas, o teu nome,
por não saber o significado do poema,
que veste este plano sentimento,
antes sacrificado.

Thursday, February 15, 2007

Decomponho o azul da minha alma numa folha de cal humana, filtrando os sentimentos em frases, palavras, sílabas, letras. Até não ficar mais do que o branco silêncio das pausas, balançando no infinito abismo deste caderno de negra capa.

E sinto a vertigem deste amor empurrando-me pelos ares, elevando-me ao céu, onde te encontras, brilhando.

Aqui, nas páginas virgens do moleskine, finjo escritores e poetas. Desenho cometas, traço estrelas vazias, esboço poemas e fantasias, que derramo em voz alta na noite, para que o vento te os entregues, numa enxame de ideias.

E vejo a verdade do grafite escurecer, como um dia caminhando calmo para o anoitecer, onde a lua - poetisa, testemunha - chega, ofuscando.

O pensamento liberto do vocabulário excessivo, que o coração obsessivo distende na folha branca, chega-te num suspiro, que amordaça o silêncio e abre a porta ao momento, em que leio o que escrevo, e deposito a palavra no teu colo.

E anseio voltar ao início. Ao princípio do ciclo deste devaneio poético, em que o teu nome reside na ponta do meu lápis, e eu sou o reflexo dele, escrevendo, contemplando

Monday, February 12, 2007

Numa qualquer noite vazia,
aterra em mim a fantasia,
que eras tu a única mulher que existia,
caminhando livre sobre a terra,
eu não mais era,
do que essa terra em que habitavas.

Sonhei isto assim sem mais nada,
que o meu corpo havia-se liquefeito em água,
a minha alma era o ar evaporado que respiravas,
e este amor que me abrasa,
elevou-se ao céu,
feito Sol,
para te aquecer.

O silêncio da Lua e as vozes dos ventos,
são testemunhas destes pensamentos.
O Mundo estava deserto de tormentos,
e nos teus passos desenhavam-se em mim momentos,
em que sorrias,
caminhando livre por uma terra que era minha.

Assim acordei.
Sentindo em mim a presença das pegadas que a noite deixou,
vendo o calor espalhado do teu corpo sobre o meu,
pensando que o Mundo que me forma continua a ser teu,
a terra que pisas sou eu,
e com isto o sonho não esmoreceu,
permaneceu,
cresceu e vai crescendo,
em cada pedaço do homem que sou.

Thursday, February 08, 2007

Mergulho na água salgada do teu sexo,
e navego a onda que pelo teu corpo percorre,
assistindo sem complexo,
ao amor que da pele escorre,

e à paixão solidificada,
transbordando pela manhã.

Agarro esta hora chã,
como sendo a última e a primeira,
parando o tempo à minha beira,
para que dele não goteje,
este sentimento talismã,

e o dia apenas despeje,
o teu olhar sobre mim.

Enfim, que mais pode o homem esperar,
do que poder amar e desejar,
que o tempo não esqueça,
a doce febre e a fresca doença,
que habita este domingo,

e a tarde permaneça secreta,
como o silêncio deste amor poeta.

Monday, February 05, 2007




Neste coração onde voam borboletas,
condenso o meu amor e desenho as letras,
que formam esta paixão.

Aqui cabem mil universos,
corre uma gota de sal cristalizada,
todos os meus versos,
e a noite fascinada,
descansa em ti.

A lua sorri a ver o poema a respirar,
e o sol esconde-se para ver passar,
o teu nome e o meu,
caminhando de mãos dadas,
por este amor que já nasceu.

Thursday, February 01, 2007

Somos a praia poética formada pelo mar e o sahara,
o encontro da terra e da água,
e o quinto elemento que nela perdura.

Somos o dia, a noite e a alvorada,
um poema escrito em cada madrugada,
a palavra impressa e toda a literatura.

Somos o oásis e o deserto,
uma miragem real aqui tão perto,
a luminosidade do dia e a noite escura.

Somos a fusão do Leste e da maresia,
o grito próximo de uma criança que ria,
e a primavera pintada de ternura.

Somos a verdade predestinada da astrologia,
a sabedoria plana da filosofia,
o sentimento ponderado, a razão e a loucura.

Somos um, mil e um milhão,
a plenitude do universo na palma da mão,
e o amor deste beijo despido, que nos captura.
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