Thursday, September 27, 2007

Faltam as imagens que a criança viveu,
e as palavras deitadas ao vento pela primavera,
navegam agora no cume da montanha que cresceu,
quando o tempo se fez quimera.

Mas o menino que escrevia não esqueceu,
fez-se adulto e ainda espera,
que o coração que sonha, que envelheceu,
continue a cantar uma gilbera.

E canta coração,
com o ritmo surdo da infância,
em que o mundo vivia numa mão

Porque o amor é tudo menos razão,
é um tremor que sobe, uma ânsia,
um beijo que rasga a escuridão.

Friday, September 21, 2007

O Governo tarda, mas não falta

Depois de abraços e trocas de elogios, chegam as críticas e a desilusão. A compra (ou a promessa de compra) de um quadro pintado pela mãe do ‘menino azul’ que o presidente do Governo Regional fez no Porto Santo, faz lembrar aquelas inaugurações pomposas que estes 30 anos de autonomia nos deram.
A comunicação social ouve os discursos. Tiram-se fotografias. Come-se e bebe-se como se o Mundo acabasse no dia seguinte. O empresário embevecido agradece os elogios do chefe do governo, e depois fica a assobiar para o ar, enquanto o dinheiro não chega. E tarda, muitas vezes, a chegar.
O problema, é que a frase repetida até à exaustão que diz que o "Governo atrasa-se mas paga" não é suficiente para convencer fornecedores e outras despesas que os empresários têm que enfrentar. Assim é o caso do ‘menino azul’.
A criança portadora de duas doenças raras, que está transformada numa triste atracção de feira, é mais um lamentável exemplo deste país badalhocamente colorido e falido. A mãe, numa opção no mínimo discutível, percorre o país a mostrá-lo, e exige que políticos e governantes a escutem. Na Madeira pensou que tinha tido sorte. Foi ouvida, se calhar até usada para fins políticos, e vendeu alguns quadros. O pior foi quando ‘desmontou’ a barraca, abriu a caixa e viu que não havia dinheiro lá dentro. Isto apesar do ‘lugar-tenente’ do Governo Regional no Porto Santo se ter apressado a dizer que pagou. Isto apesar da Quinta Vigia, através daqueles notas humorísticas que chegam às redacções, ameaçar quem disser o contrário com um processo.
A verdade é que não tenho nada com as compras individuais de cada um, mas deixo aqui um conselho a mãe do ‘menino azul’, na próxima feira na Madeira, peça o dinheiro adiantado.

Thursday, September 20, 2007

de cada janela que brilha lá fora,
chega até mim ténue lamento,
que oiço, distante, agora,
como um sopro esfarrapado de vento.

antes foi minha aquela janela,
desenhada no prédio insone,
persianas cerradas e a marca derretida de uma vela,
olhos molhados pela fome.

agora apaga-se a luz do meu quarto,
é suficiente o teu corpo luminescente,
para afugentar a insónia deste espaço,
em que a poesia era coisa intermitente.

ela dorme hoje nos meus braços,
vestindo mais nada do que um perfume de fado,
sonha nua sem embaraços,
despontando infinita ao meu lado.

Monday, September 17, 2007

Quero morrer nos teus olhos,
nesse olhar tão teu,
eternizar-me nesse reflexo de mim,
que não pertence aos meus olhos,
porque individualmente não sou eu,
mas pálida imagem de mim.

Quero prolongar-me nesse gesto,
habitar no segredo que guardas em ti,
ser parte do respirar que te envolve,
e desenhar-me através desse universo,
em que um dia, deitado, vi,
a imagem que o teu amor devolve.

Quero ser esse homem que vejo,
ter os contornos aguados,
que as tuas pálpebras vão escrevendo,
nesse eterno desejo,
de ser abraçado pelos teus olhos salgados,
e aí morrer, vivendo.
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