Monday, August 27, 2007

Não digas Sara,
que sou igual aos outros,
porque os outros são tantos,
que não se parecem em mim.
Diz sim,
que sou igual ao Ernesto,
porque de resto,
é assim que eu sou.

Faz-me a vontade, agora que passou,
há mil homens e eu sou um,
igual nos defeitos,
diferente no amor.
E mesmo no calor,
de uma palavra, de um olhar,
é em um, não mil,
que deves pensar.

Vê para trás,
olha para a frente,
e sentirás que sou diferente,
até do Ernesto, se pensarmos realmente.
Mas amo-te imensamente,
isso tu cheiras que sim,
e assim,
sabes que sou eu.

Friday, August 24, 2007

Um raio branco espreita pelo ninho de pedra,
pintando a erva que cresce desalinhada,
e o poema aparece aos pés da estrada,
como um pretexto com raízes de pólen.

O tempo solidificou-se neste noite escura,
em que a lua esqueceu-se que é reflexo,
e aparece orgulhosa de ser lua,
iluminando o texto e a letra nua.

Aqui és a palavra, o verso,
e eu o reverso do dia que já nasceu,
naquela erva distraída a ser adulta,
para sentir o raio branco da lua.

Deixa-te ficar imóvel,
quando olhares já não és erva, não és pólen,
mas traço amarelo de tempo,
que cresceu sem dar por ela.

Monday, August 20, 2007

Devia ser azul o teu cheiro,
nesse traço inteiro
da gota de água
que te veste a pele.
E vermelho,
o beijo que trazes na mão,
embrulhado num suspiro de mel
derretido pelo sol da manhã.

Devia ser incolor o teu olhar
que me despe pela tarde adormecida,
e queima a palavra esquecida,
de uma dor que não é minha.
E branco,
o sonho que embala a madrugada,
voo de asa desgarrada,
subindo ao céu.

Devia ser luminescente, o corpo
que me abraça quando a noite acorda,
e deixa impresso um travo de saudade,
quando a lua adormece.
E laranja o fio de cabelo,
quando o dia penetra por entre os biombos,
e a alma desperta aos tombos,
para mais uma doce eternidade de ti.

Friday, August 10, 2007

Deixa-me rir...

Quase dão para rir as justificações dadas pelo Governo Regional para perdoar as dívidas dos três ‘grandes’ do futebol regional à ‘entesada’ Segurança Social. A decisão, que passou, por mera coincidência, despercebida nas deliberações do Conselho de Governo de 13 de Julho último, caiu no JORAM com as explicações do costume. O objectivo, diz a cândida Quinta Vigia, é ajudar os clubes a cumprir o papel formativo e social que têm.
Um trabalho que, temos de reconhecer, tem sido feito, e de ano para ano são cada vez mais os jovens brasileiros formados pelas SAD’s madeirenses. Muitos pagos como reis, alguns de qualidade duvidosa, e todos no cumprimento do papel social dos clubes. Não tenho nada contra os jovens brasileiros, e sei que o futuro dos clubes passa por uma aposta cada vez maior na formação e na prospecção de novos talentos, sejam eles portugueses ou naturais do Zimbabué. Mas tenho tudo contra, quando esse trabalho é pago pelo ‘parco’ Orçamento Regional que não tinha verba, até há bem pouco tempo, para fazer cumprir a lei que despenalizou a interrupção voluntária da gravidez.
Mas o mais caricato desta prenda do Governo Regional, é que menos de um mês depois de perdoar as dívidas, decide retirar a formação aos clubes e dá-las às escolas. Mais uma vez tudo bem. É o modelo norte-americano, e tem funcionado tanto em termos desportivos como sociais, mas a justificação apresentada só não provoca mais gargalhadas por o assunto ser demasiado sério. A Quinta Vigia descobriu que existem "alguns" clubes a desviar as verbas públicas destinadas à formação para pagar profissionais. Então, em vez de entregar o caso à Justiça - porque trata-se de um crime - muda apenas as regras.
Com tudo isto, o melhor é fazer como canta Jorge Palma: "Deixa-me rir..."

Tuesday, August 07, 2007

O que fazer com esta alma que me entregaram na mão,
senão derramá-la ao vento,
para que te a leve,
num suspiro tormento,
e deposite este amor,
no teu coração.
Ah, a saudade do beijo roubado,
do respirar do Deus dos homens
e das mulheres,
jovens crianças,
encerrando as primaveras
de calma e calor.
E a saudade do futuro,
do beijo por agarrar,
da nova infância,
encarnada num corpo de menino
que o destino vai tecendo,
no seio do teu ventre,
e eu vou esquecendo,
o que era não ser eu.

Sunday, August 05, 2007

A Justiça é pitosga

A Justiça não é cega. É pitosga. Lembra-me aquelas pessoas que me fascinavam em criança. Conseguiam ver as horas na torre da Sé a um bom quilómetro de distância, mas tinham que colocar os óculos no abismo da ponta do nariz para conseguirem ler o jornal.
Assim é a estátua de peito despido. De espada numa mão e balança equilibrada na outra, que está à porta do Palácio da Justiça. A estátua que condena uns a pagar pelas asneiradas que dizem e deixa outros refugiarem-se na cada vez mais incompreensível imunidade parlamentar.
Imunidade, digo eu, devíamos ter nós, cidadãos de sapatilhas e calças de ganga, quando ouvimos na casa da democracia palavras como "sifões", "chulo", "burro" ou frases idiotas que dizem que o papel da mulher é "procriar", e se não quiser, que resolva o problema no "estrangeiro", como boa madeirense.
Nestes debates, como o do "ex-padre" que vivia às "custas" das esmolas da igreja e o empresário que se "demitiria" se alguma vez tivesse ganho algum concurso público, imunidade rima com impunidade. E, para mim, ambas têm forçosamente que acabar.
Mas isto de processar quem critica, traz-me à memória a recordação de outro presidente.. O do FC Porto. Também processava e processou tudo e todos. Também doava o dinheiro das indemnizações. Acabou processado e a pedir ajuda à Virgem Maria.
Por isso, o meu filho, quando nascer, vai ouvir os conselhos do pai e da mãe, que o pai tanto ama: Seja de sapatilhas ou de sapatinho de sola seca, comprado nos saldos da ‘Nova Minerva’, a Assembleia não é lugar para entrar. Nem com imunidade.

Thursday, August 02, 2007

Faço amor com o teu nome
nas linhas de um poema,
percorrendo os poros do papel,
a tua pele, na margem da letra que me consome.
Escrevo,
mergulhando a tinta no dilema,
beijar-te eternamente
ou morrer nesse beijo.
E a palavra surge despida,
pétala a pétala,
cada sílaba caída,
marcando o papel,
a tua pele,
com o meu nome,
com o meu desejo.
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