Tuesday, November 27, 2007

o pólen das plantas evapora-se quando te aproximas,
e a chuva desliza pelas nuvens que passam ligeiras,
no céu, risca uma estrela escrevinhando rimas,
e a lua cala-se à beira
da efervescente eternidade em que caminhas

os teus passos cristalizam a água da montanha,
no mar, o sal adocica,
esquecesse de ser mineral, coisa estranha
esse teu rasto flamejante que fica,
na poesia que a minha mão desenha

e a química do planeta desdobra-se na matemática
das coisas loucas em que medito,
flutuando pelo corpo a palavra errática,
que queima a carne e alimenta o rito,
de emprestar asas à gramática.

Sunday, November 25, 2007

tenho em mim esta ideia louca; a poesia
dos dias em que alinhavava o incolor desassossego,
que nasceu no tempo em que a razão não existia,
éramos só nós, sós e um farrapo de vento.

agora somos mais do que isso: um milhão em cada dia,
e a mão rouca a procurar no papel o aconchego,
que desvende o mistério que se esconde na filosofia
do teu amor, chegado em segredo.

e assim quedo-me de lápis na mão,
nós, o milhão e mais ninguém,
escrevendo e apagando até à exaustão,

isto que não sei se dor que me rasga o coração,
desbravando o branco para chegar mais além,
e sentar-me no olho do furacão.

Tuesday, November 20, 2007

oiço os gestos das palavras que não falas
e o que dizes chega-me palpável
desenhado na tua pele estendida
com que calas
a eternidade incomensurável
de uma estrela perdida.

embalas esse silêncio atmosférico
à sombra da noite sibilante dos rios
onde navega o sal das lágrimas esquecidas
e nada o teu beijo periférico
entrelaçando o teu nome nos fios
da corrente invisível dos dias.

e aí leio, na espuma das ondas
que chegam em bandos à praia
para beber o esboço maduro
do sorriso com que adormeces e sonhas,
e a lua desmaia,
no teu futuro.

Monday, November 19, 2007

faz hoje um ano que nasci
que romperam asas no teu beijo
e escrevi em ti
o meu sonho, o meu desejo.

um ano, e tantas semanas pedi
deste-me uma vida, hoje vejo
que o terror que senti
foi o coração a abraçar esse doce ensejo.

a madrugada sorriu como a criança que amo
a alvorada rasgou a lágrima que vestia
e a última estrela partiu jurando que não era desengano

desde então sou do teu amor, um amo
tinha razão aquela estrela tardia,
porque hoje faz um ano
(Novembro 2007)

Friday, November 16, 2007

vejo na sombra da árvore tombada
o sorriso da infância perdida
que o tempo estilhaçou em água
e o adulto chama para a vida.

surpreende-me nesse musgo verde mágoa
os passos da criança vestida
de uma nuvem que passa alada
trazendo o teu nome e a palavra escrita.

tem destas coisas a poesia
devolver o homem à fatalidade do sonho
arrastando na mão a ironia

de que a única memória que havia
do pequeno poeta tristonho
ser a única verdade que existia.

Thursday, November 15, 2007

existo neste papel amanhado,
pela combustão da tinta e do carvão,
sou eclipse compassado,
que espreita aqui e ali,
por entre uma rima com razão.

no intervalo sou um longo bocejo,
o interlúdio de um suspiro,
que alimenta a memória de um beijo,
oferecido pela mulher que há em ti,
e aí escrevo e respiro.

nada mais será com antes,
o lápis agradece que assim seja,
abraçando os momentos, os instantes,
em que bebi,
a cor que o papel deseja.
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