Sunday, August 05, 2007

A Justiça é pitosga

A Justiça não é cega. É pitosga. Lembra-me aquelas pessoas que me fascinavam em criança. Conseguiam ver as horas na torre da Sé a um bom quilómetro de distância, mas tinham que colocar os óculos no abismo da ponta do nariz para conseguirem ler o jornal.
Assim é a estátua de peito despido. De espada numa mão e balança equilibrada na outra, que está à porta do Palácio da Justiça. A estátua que condena uns a pagar pelas asneiradas que dizem e deixa outros refugiarem-se na cada vez mais incompreensível imunidade parlamentar.
Imunidade, digo eu, devíamos ter nós, cidadãos de sapatilhas e calças de ganga, quando ouvimos na casa da democracia palavras como "sifões", "chulo", "burro" ou frases idiotas que dizem que o papel da mulher é "procriar", e se não quiser, que resolva o problema no "estrangeiro", como boa madeirense.
Nestes debates, como o do "ex-padre" que vivia às "custas" das esmolas da igreja e o empresário que se "demitiria" se alguma vez tivesse ganho algum concurso público, imunidade rima com impunidade. E, para mim, ambas têm forçosamente que acabar.
Mas isto de processar quem critica, traz-me à memória a recordação de outro presidente.. O do FC Porto. Também processava e processou tudo e todos. Também doava o dinheiro das indemnizações. Acabou processado e a pedir ajuda à Virgem Maria.
Por isso, o meu filho, quando nascer, vai ouvir os conselhos do pai e da mãe, que o pai tanto ama: Seja de sapatilhas ou de sapatinho de sola seca, comprado nos saldos da ‘Nova Minerva’, a Assembleia não é lugar para entrar. Nem com imunidade.

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