Saturday, July 07, 2007

se conseguires ver para além do céu queimado pelo cometa do meio-dia, e respirares o pólen da madrugada como uma criança brincando à bola com uma gota de orvalho;
se um pequeno charco sujo pela cidade te for grato, como o límpido reflexo de um carvalho num lago de montanha, formado por um rio de neve derretida pelo calor dos teus passos;
se sentires a primavera crescer selvagem por baixo das pedras da calçada que todos os dias pisas, e, fechando os olhos, ouvires as vagas de vento atingirem as paredes do escritório, esfumando a névoa que o envolve, com o desespero de quem beija um amante arrefecido;
se tocares nos dedos da filosofia que viaja por entre o caule do arbusto ressequido pela rotina do dezoito, e leres as palavras escritas na nuvem que passa despreocupada pelo espelho de água;
se o riso desafogado da velha que pede na praça te surpreender, e conseguires encontrar poesia numa folha desprendida esvoaçando pela rua deserta;
se a beleza nua de um dia a entregar-se nos braços da noite fizer o teu dia, e, à noite, ao dormir, sonhares desperta com o quarto a explodir e a cama uma nave espacial em movimento;
se para ti o mar não for sempre azul, e a espuma um momento fugaz da cor das estrelas, mais branca que a lua, e o arco-íris uma caixa de lápis de pintar, para quem vive a preto e branco;
se o banco daquele jardim, em que tua criança escondia-se do mundo entre às páginas de um livro proibido tiver o nome do paraíso, e o universo chamar por ti num silêncio de três silabas;
então encontras-me Sara. em todo esse mistério que afaga o saltar dos dias está presente um pedaço de mim, para ti;
recebe-o como alimento, como eu me alimento do teu nome, nesta fome de navegar ao teu lado.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home

Locations of visitors to this page Website counter