Thursday, June 28, 2007

se Deus existisse eu estava morto;
como mortas estão as palavras e os poemas,
ficaram os poetas, as frases, as rimas
e Deus como desculpa para o resto.
se o diabo existisse tinha piada;
não estava morto, nem vivo,
como as plantas respirando sem saber;
e uma pedra rolando sem querer.
mas nem Deus, nem o Diabo existem;
são palavras, poemas, mortos,
cantados por alguém que não eu,
que não existo nem estou morto,
e de poeta só o pouco,
que rima em mim.
o teu nome;
é muito.

Sunday, June 24, 2007

Se algum dia eu te encontrar,
noutro tempo que não o nosso,
deixa-me que te tome nos lábios o coração,
e que te segurando na mão,
murmure:
Entrego-me a ti com a lucidez cega do amor,
aceita todo o meu ser,
que deposito a teus pés.
Nada sou neste tempo ímpar,
apenas uma alegoria,
por favor reconhece-me como teu.
Se algum dia eu te encontrar,
noutro tempo que não este,
e abordar-te, como aborda um desconhecido,
não deixes que o teu corpo se faça esquecido,
nem te assustes se as palavras me faltarem,
fecha os olhos e deixa o som da minha voz ecoar dentro de ti,
e mesmo que as sílabas saíam fora de tempo,
ouve-as,
é de amor que falarão,
do nosso amor perdido,
que trago gravado no coração.
Se algum dia eu te encontrar,
noutro tempo, onde não se ouçam pássaros marinhos,
e sentires alguém a acompanhar os teus passos,
não deixes que os teus braços me congelem,
nem que as lágrimas me gelem na face feita em farrapos,
olha-me no fundo dos meus olhos lassos,
e vê para lá da cor transparente que os reveste,
sente o pulsar do teu reflexo,
mesmo que não vejas ali nexo,
e encontres apenas uma tristeza agreste,
não deixes que os meus anseios caminhem sozinhos.
Se algum dia eu te encontrar,
noutro tempo que não o presente,
vais recordar o meu nome, Sara,
como eu soletro o teu?
Conseguirás ver o que o meu corpo sente para lá dessa dimensão desconhecida?
Deixarás o tempo reencontrar-se,
amar-se,
com estes dias que correm plácidos?
Ou vais preferir os tempos ácidos em que não existias em mim?
Enfim,
saberás encontrar razões para amar-me, como agora amas?

Saturday, June 23, 2007

Como uma canção trazida pelo vento,
o teu nome chega a mim a cada momento,
e eu tento,
cantá-lo para espantar a saudade,
que trago numa mala de viagem,
arrumada com o teu amor.

E no regresso,
na bagagem,
levo esta saudade,
que me acompanha,
para depositá-la no teu corpo,
e deitar-me a teu lado a pensar.

É assim que quero ficar,
debruçado na tua imagem,
essa é a minha viagem,
pelas curvas que te formam,
pelas ideias que te povoam,
és tu quem desejo amar.

Friday, June 22, 2007

Mais do que os discursos inflamados e cheios de recados. Mais do que a paralisia momentânea que atacou as mãos do secretário de Estado Filipe Baptista. Mais do que a troca do "cumprir" pelo "comprir". Mais do que o conselheiro que queria entrar à força (e entrou) por ser ainda conselheiro. Mais do que a mudança de estilo de Brazão de Castro. O que eu gostei mais da tomada de posse do X Governo Regional foi do 'beija mão'.
Foi mais de uma hora de fraterno companheirismo, de despreocupadas felicitações e de alguma (muita?) bajulice à mistura, que até provocaram cãibras no presidente. Ninguém, tirando José Sócrates, já se sabe, quis faltar, e não se viam tantos notáveis juntos, desde aqueles espectáculos inseridos nas comemorações da Região Europeia 2004.
Poucos apreciavam a música. Muitos nunca tinha ouvido falar de quem estava em cima do palco. A maioria preferia estar em casa, de pijama vestido, a ver a novela da TVI. Ou então a assistir ao hilariante, e felizmente extinto, 'Malucos do Riso', mas lá que os bilhetes esgotaram, lá isso esgotaram.
Tal como esgotaram na terça-feira. O Salão Nobre daquela casa de tantos espectáculos foi pequeno para tanto público, e a elite madeirense - cada vez mais numerosa - teve que apinhar-se, suar e aplaudir, aplaudir muito. Porque estes são os últimos quatro anos de Jardim na presidência, e o futuro é demasiado incerto para muitas daquelas mãos que, uma a uma, apertaram a do presidente e a do vice-presidente.
Em 2011 os cumprimentos serão para outros, resta saber se a fila para o 'beija mão' não vai ser ainda maior.

Monday, June 18, 2007

Este amor duplica,
na fotografia monocromática de alguém que há-de ser alguém.
O sal corre doce pela face esculpida,
perante uma vida que bate, que respira,
e o sentimento suplica,
que me continues a amar,
para além do amanhã.

Hoje que te vejo,
assim sem mais nada,
assalta-me uma felicidade desgarrada,
que cai sobre mim como pensamento idílico,
evaporando o medo como álcool etílico,
e eu deito-me a chorar e a pensar,
o fruto que este amor há-de dar.

E agarro esse pensamento,
vivendo-o a cada momento,
como vento, como certeza,
deixando-me embalar pela surpresa,
de ser enfim feliz em toda a plenitude,
e é esta virtude que vos ofereço,
a do apreço do meu amor.

Thursday, June 14, 2007

Vai mas é para o Euribor!

A palavra Euribor devia ser um palavrão. Aliás, vai ser isso que eu vou ensinar ao meu filho quando ele nascer. Por agora ele cresce no ventre da minha mulher, protegido dos humores do Banco Central Europeu, mas quando acordar para o Mundo, quando a única ocupação dele deixar de ser agitar os pés e as mãos, naquela dança que me enternece, vou avisá-lo acerca daqueles senhores de fato e gravata que fazem umas contas estranhas na Alemanha.
Aqueles senhores que insistem em que a melhor maneira de controlar a inflação e a massa monetária da Zona Euro é pôr-nos a pagar mais por um bem essencial, que já está, aqui na Madeira, escandalosamente inflacionado. Aqueles senhores, todos economistas de renome, e bancários por acaso, que por mera coincidência, ou talvez não, apenas beneficiam os bancos com estas medidas económicas, parecem obedecer à lógica da batata.
Assim. Para o preço da batata não subir, para a bandeirada dos táxis não ser ainda mais cara ou para o padeiro não ganhar mais uns cêntimos num papo-seco, toca aumentar as prestações do crédito habitação, e a malta vai comendo sandes de batata e dormindo nos táxis.
Por isso, se algum dia o meu filho disser Euribor, vou ter de ser firme. "Oh filho! Esse nome não se diz. É uma palavra feia".

Tuesday, June 12, 2007

Vivemos agora duas vezes,
antepassados de nós próprios,
poetas ébrios de palavras,
sóbrios de quase nada,
contemporâneos dos nove meses.

Caminhamos de mãos entrelaçadas,
como amantes irreais,
tendo o rasto da lua com estrada,
as estrelas ideais,
e no Sol, mil esperanças imaginadas.

De dois fez-se três,
o amor cresceu invisível,
transbordando do papel, da carne,
e agora arde, ilumina,
tem Deus como testemunha.

Três é igual a um,
numa matemática metafísica,
numa poesia que não termina,
astros errantes desobedecendo à física,
convergindo para um só coração.

Saturday, June 09, 2007

Em ti encontro-me sem procurar,
em ti vejo sem olhar,
és a personificação da mulher,
amante, companheira,
é à tua beira que me sinto,
nos teus braços que me reconheço,
que ao largo de um cruzeiro te beijei,
todo eu amei,
a mulher que mora em ti.

E eu sei,
que em mim,
habitas, respiras, vives,
cresces,
cresces como o universo em expansão,
dá-me a tua mão,
caminha comigo,
vem,
não digas que não,
sem ti não vivo.

Tuesday, June 05, 2007

As paredes estão pintadas de medo,
o soalho transpira silêncio,
a cama range sob um único corpo,
e a mente desperta,
desespera,
ouvindo o eco da casa deserta.
Não há solidão maior do que esta,
ser teu e não te ter aqui,
eu sei que estás à minha espera,
mas a noite não se compadece,
nem o corpo adormece,
quando estou longe de ti.
E as lágrimas formam um lago,
a insónia agarra-me como um animal,
o amanhecer parece um lugar por inventar,
penso em ti, no Santiago,
nesta noite brutal,
em que só vos quero amar.

Monday, June 04, 2007

'Heil' José Pinto-Coelho

Acho piada. A sério que acho piada, nesta nossa extrema-direita. Para dizer a verdade, acho piada a todas as extremas-direitas, mas particularmente na nossa, particularmente na barbicha do líder do Partido Nacional Renovador (PNR), José Pinto-Coelho.
Porque esta extrema-direita que quer Portugal fora da União Europeia. Que defende o escudo e os centavos sem um mínimo de conhecimento de economia ou finanças. Que deseja "boa viagem" aos milhares de estrangeiros que ajudam a construir Portugal, mas não sabe muito bem como vai receber os milhões de portugueses que trabalham lá fora. Que idolatra o "génio financeiro" de Salazar que saneou as finanças portuguesas, mas não investiu um centavo no desenvolvimento do país. Que aplaude a diplomacia que nos manteve à margem da II Guerra Mundial e fecha os olhos aos pantanosos 13 anos de guerra colonial em que o país esteve atolado. Que lê o ‘Mein Kampf’ convencida que tem cabelo louro e olhos azuis. Que olha embevecida para Le Pen, apesar dele querer escorraçar os portugueses, e restantes emigrantes, de França. Que organiza reuniões internacionais esquecendo-se que a pureza do sangue lusitano é doença infecciosa nos países convidados. Que rapa o cabelo ou o penteia à ‘III Reich’. Que acolhe grupos de marginais com pomposos nomes ingleses - onde está o orgulho nacional aqui? Que fala em liberdade de expressão, mas desata à pancada e à vil ameaça quando a expressão não é a dela. Que é uma caricatura desensabida de uma coisa que está morta, por mais concursos de televisão que Salazar vença.
Por tudo isto, esta malta tem piada. Pelo ridículo. Pela demagogia. Pelas ideias requentadas e importadas. E, principalmente, pela barbicha de José Pinto-Coelho. Nada que se compare, claro, ao cabelo dourado da minha Scarlett Johansson. Essa sim pura. Não no sangue lusitano, mas nos sentimentos que nos unem.

Friday, June 01, 2007


Há um fogo que cresce em mim,
que tem o teu nome,
cada labareda que me consome,
uma madeixa do teu cabelo,
cada crepitar de chama,
esse marulhar que me chama,
cada queimadura,
um pedaço de ti,
impresso na pele.

Sou pasto desse incêndio,
que queima do interior,
lume brando que aquece,
porque um amor destes não se esquece,
seja em Havana, seja em Varadero,
o único sentimento que cresce,
são as saudades de ti,
que ardem dentro de mim,
e me explodem o coração.
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