Tuesday, April 29, 2008

pedes-me que escreva uma rima sentida de palavras,
para te cobrir o corpo quando dormires,
e eu de lápis gretado na mão,
penso nas noites de Sherazade,
que também despia sílabas com o coração,
e com elas conquistou a imortalidade,
que já é minha, tamanha é a força de existires,
neste meu labirinto de rimas tresloucadas.

e não é loucura em demasia, quando digo que neste lago,
cristalino na água e na substância,
navega à tona o reflexo sem nexo de um poema,
que a noite, companheira, deposita,
num desejo pintado com o sabor a alfazema,
que o lápis transforma em palavra escrita,
nesta nossa renovada infância,
que recebe o nome de Santiago.

Friday, April 25, 2008

obrigado pela capicua

"Primeiro as ávores cobri-
ram-se de folhas depois

de pássaros e depois de
homens."

Jorge Sousa Braga,
Uma fotografia do 25 de Abril

Monday, April 21, 2008

Uma mão invisível derramou um punhado de nuvens escarpadas em véu,
no horizonte baloiça o que parece ser um navio,
mas pode ser qualquer coisa, como um anjo descrente caído do céu,
nadando para a cidade em desafio.

Deus morreu há tempo demais para ser sagrado,
e em cada homem deixou um demónio caminhando,
fazendo do destino um trilho estagnado,
que as pegadas frágeis vão escavando.

Não é coisa nem outra aquilo que baloiça no mar;
onde a vista se perde e a imaginação aparece,
é apenas Deus que cansado de ser pai, decidiu ser pássaro e voar.

Sem olhar que o paraíso é rancoroso e não esquece,
que aquele pássaro que prometeu a todos amar,
navega agora distante como uma prece.
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