Thursday, March 20, 2008


esta cidade que navega deserta pelas cinzas do império,
esta cidade onde se matam poetas e afogam ideias sem mistério,
chama-se minha por serem meus os passos que percorrem as ruelas,
mas não me pertence quanto as pegadas que deixo desaparecem como aguarelas,
ao som das primeiras chuvas de outono.

não tem verdadeiro nome esta cidade nascida do fogo,
filha do mar e do insular sufoco,
que deixa no ar um travo a liberdade perdida,
que sente um náufrago quando acorda prisioneiro de uma desconhecida ilha,
sabendo-se votado ao interior abandono.

é estranha a todos esta cidade de funcho pintada de flores,
onde descem ribeiras e sobem às montanhas rumores,
de um tempo isolado e surreal,
que quinhentos anos depois permanece igual,
congelado na realidade alucinada do sono.

no entanto quedo-me neste cidade, de janelas abertas para o mundo entrar,
e serão sempre meus os carreiros de jacarandá, enquanto habitares nos braços do mar,
que sussurra o teu nome e nos envolve com um longo abraço,
que de madrugada, quando o vejo crispado por cima dos telhados de fogo, devolve o teu traço,
para a cidade em que construíste em sonho, o teu trono.

Thursday, March 13, 2008

se fosses um rio e eu o reflexo nele,
numa noite quieta,
em que as estrelas tinham partido para galáxia incerta,
mergulhava as mãos no teu corpo liquefeito,
para sentir no peito,
o calor e a água que emana dele.

se fosses céu e eu o vento desencontrado que o percorre,
numa qualquer madrugada discreta,
a minha alma estaria desperta,
para o universo gasoso e perfeito,
e deitava-me a voar por esse leito,
em que o tempo pára, parece que escorre.

e se fosses mulher de carne e sangue e eu homem de matéria igual,
sentados numa tarde deserta,
saberia que eras tu a poesia certa,
para a minha mão escrever a preceito,
o amor que anda tão rarefeito,
mas que construiu aqui, a sua capital.

Friday, March 07, 2008

sonhei que era um cavalo branco,
como brancos são todos os cavalos sonhados,
cavalgando por um trilho de fogo,
que não queimava mas iluminava,
os ventos içados que empurravam,
o cavalo branco em que me transformara.

cavalguei a noite inteira,
na esteira de um carreiro de árvores caladas,
centenas de folhas paradas a apanhar sol,
e eu a cavalgar feito cavalo branco,
em busca da (tua) imagem que me faltava,
numa viagem demasiado real para ser sonhada.

por fim encontrei o teu nome,
sentado a admirar o céu de estrelas e de sol,
e o cavalo que era eu estacou,
e o sonho acabou,
quando te vi tão nítida,
que tinhas de ser real.
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