Tuesday, April 17, 2007

Este dia que é água, que é melancolia,
traz do vento o perfume irreal da primavera,
caindo sobre mim vestido de magia,
onde no céu metalizado desponta rosa gilbera,
e morre levado por grande ventania,
esboço de sonho feito quimera,
enquanto Deus senta-se a escrever poesia.

Escrevo também eu, algo que se assemelha,
desenho teu de letra ardente,
palavras e frases feitas lenha,
nadando em água efervescente,
a mão arde e a caneta estranha,
porque perante esta lua luminescente,
as palavras do poeta quase parecem lenha.

Será qualquer coisa de intermédio,
isto que desenho para apagar o sofrimento,
amor, sal, um dedo de tédio,
um verso, um tormento, um momento,
escrever é tudo o que sei, grande remédio,
derramar sobre o papel o calor, o vento,
e o grande, o pequeno e o médio.

Poetizando a futurologia do presente,
o ontem e o amanhã abraçados numa figura de estilo,
a realidade imaginada que o coração sente,
palpável e real como um vislumbre de exilo,
profundamente real, porque o verso não mente,
mortal como um dedo no gatilho,
porque esta tinta é sangue incandescente.

A mão desliza, dança a cada segundo,
viajando pela página como barco pelo mar,
traz nos dedos o peso do chumbo,
do coração o mais puro e sentido amar,
deste amor crescido do meu fundo,
em que és a vida, a morte e o mundo.

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