Sunday, December 24, 2006

Demoro-me no precipício da beleza do teu corpo,
como numa manhã de domingo.
Deixo-me ficar,
imóvel,
no vácuo da noite escura,
onde só o teu nome dura,
e o cabelo tombado brilha,
como estrela cadente solidificada

Dormes profundamente.
Não vês a Lua que passa devagar,
nem os farrapos de nuvens que vêm com ela.
Respiras por pauta musical,
quase não se ouve
mas sente-se.

O espaço estremece com o vibrar dessa harpa imaginada,
a mão treme de antecipação quando vê o teu braço nu,
vestido de água.
Parecem ramos adormecidos de uma árvore mascarada de mulher.
Balançando ao vento,
apagando os gestos deixados pelo dia.

Toco-o.
Percorro o sulco das veias,
sentindo a seiva tingida transbordando em mim,
como uma constelação de ideias.
A noite continua calada,
todo o universo é silêncio,
e tu continuas a dormir profundamente.
Docemente.

Sonhas.
Eu sei que sonhas.
Com barcos de papel navegando em mar de olhos azuis.
Habito aí,
nesse pensamento expandido,
longe da aridez do basalto,
da mesquinhez do homem.
Alto,
como montanha de neve.

Debruço-me nesse espaço,
onde sou personagem secundária.
Como o dia,
que se espreguiça lá fora,
trazendo com ele a realidade sanguinária.
Vem com a manhã,
que bate à janela fechada.
Tem pressa de acordar.

Eu não.

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