Wednesday, November 08, 2006



Lembras-te daquele noite em que nos sentamos à frente de um cinzeiro para conversar? Foi à beira da praça. Daquela que parece nunca ter deixado de existir? Lembras-te? Bebias cerveja por um copo alto e olhavas para a igreja, que lá fora encolhia-se do Outono. Já tinha chovido nesse dia. Muito, tudo. Talvez por isso o céu estava agora calado, e só frio lembrava que o calor era coisa do passado. Gosto de acreditar que não. Que a chuva parou de cair, para poder ler o papel que me estendeste. Que estava atenta.
- Aqui está escrito quem eu sou – Disseste, naquela branca inocência que já foi minha, desdobrando a página de um caderno cheio de estrelas.
- Não gozes – Insististe, mostrando-me as letras desenhadas a azul, com que vais acrescentando quem és. Viste a data no fundo da folha, acendeste um cigarro, e regressas-te à cã igreja, enquanto eu lia o que eras.
Lembras-te? Disseste que ias acrescentando palavras, frases, parágrafos à medida que te desvendavas. Que te descobriam. Li até ao fim, com atenção, e não gozei. Não poderia ter sido de outra forma, já que até a chuva se tinha silenciado e parecia já não fazer tanto frio assim. Poderia ter acrescentado uma mão cheia de palavras ao que tu és, e ao que sei que vais continuar a ser. Mas não. Fui egoísta, e apenas desejei ter uma folha só para mim. Podia ser sem estrelas, escrita a vermelho, mal cuidada, amarrotada, gasta pelo que fiz e principalmente pelo que ficou por fazer. Mas minha, para poder rasgá-la em mil segundos e devolvê-la à praça. Aquela, lembras-te?, que nunca vai deixar de existir.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Poquê é que não me disseste o que pensavas de mim ou sentias naquele momento? ... A cerveja estava fresca, o frio roçava-me ao lado .. mas os teus olhos enchiam-se de curiosidade por saber mais e mais... Desperdiçaste a oportunidade nessa noite... Mas estou sempre aqui .. Longe ...
Um beijo

7:35 PM  

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