Friday, October 13, 2006



O jantar de uma empresa é sempre festivo. O salário nunca é suficiente para pagar o sacrifício de precisar de trabalhar. Por isso, toca a comer por três dias, e beber por um mês. É a empresa que paga. Mas antes, é preciso seguir o ritual. Primeiro, aquele homem que quase só conhecemos do lugar destinado ao conselho de gerência na ficha técnica levanta-se. Todos fingem concentração, quando começa a elogiar o trabalho feito, os projectos alcançados, a enaltecer uns, ignorar outros, e lembrar - lembra sempre - que é preciso continuar por mais um ano. Depois dos aplausos para esconder a falta de entusiasmo, é tempo de homenagear os “colaboradores” mais antigos. Aquele homem, que nos habituamos a ver pelos corredores, sempre atarefado, mesmo na pausa para o cigarro, ao fundo do corredor, agradece os aplausos. Emocionado, segurando, sem graça, a gravata, também ela funcionária antiga da casa, faz vénias e balbucia brigados.
É então que a festa começa. Ida ao buffet, mais vinho, nova visita às carnes, mais vinho, sobremesas, digestivo. Começa a música, os sorteios de viagem, os excessos. A troca de olhares com a rapariga que trabalha ao lado, mas com quem nunca falamos. As paixões reprimidas que se desatam, com as luzes, cigarros e mais digestivos. A música que não pára, as danças mais apertadas para esquecer a vida que se leva em casa. Se forem muitas, a noite termina com um desvio para trás de um arbusto ou para o banco traseiro de um carro. Amanhã é outro dia, mas no jantar da empresa ninguém pensa nele. Já o conhecem.

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